terça-feira, 13 de junho de 2017

Somos todos como ele

As vestes maltrapilhas, cabelos desgrenhados e pés descalços sugerem que a figura em questão é indigente.
O mau odor, os olhares tortos de todos ao seu redor confirmam, é sim um ser abjeto.
Ele se senta no degrau do ônibus que estavamos e começa a conversar. 
Não, não com as pessoas que o cercam, pois que estas estão ocupadas a comentarem entre si covardemente, haja visto o tom levemente atenuado para que este não pudesse ouvi-las e saber que ironicamente é o centro das atenções naquele coletivo.
Conversava sozinho, diríam. Penso que talvez estivesse a dialogar, um diálogo intenso inclusive, com uma criação de sua mente.
Devido às drogas, esquizofrenia ou o resultado da situação a qual está exposto todos os dias.
O ser humano é terrível e foi ele o responsável pelo estado deste jovem rapaz de sabe-se lá quantos anos de idade.
Este rapaz que podería ser eu ou você. Este rapaz que sim, sou eu e é, meu caro leitor, você. Contudo, talvez uma extensão de nós um tanto mais intensificada.
Nós que somos todos os dias olhados de modo desagradável por um e outro
Nós que ouvimos muitas vezes e nos fazemos de surdo (porque é melhor) palavras não tão legais, direta ou indiretamente
Nós que conversamos sozinhos o tempo todo quando assim estamos ou em alguns casos, em outras presenças e que, ainda assim não somos taxados de loucos
Nós, que estamos sozinhos no mundo mesmo que acompanhados
Nós que constantemente somos submetidos a tantas dificuldades que a vida nos...proporciona, e que buscamos nosso modo de lidar com elas...álcool, festas, e por que não drogas? sim, talvez não as mesmas as quais ele consome, afinal, não se esqueça que ele é a versão mais dramatizada de tudo aquilo que somos e vivemos, mas, ainda assim, drogas são drogas.
Nós que nos achamos mais, e que julgamos com olhares antes mesmo das palavras e que ao olharmos, pensamos involuntariamente e criticamos fervorosamente quem sequer damos a oportunidade de conhecer, somos nós leitor. Todos nós. Mas, sabe que diante disto tudo percebi dessemelhanças irrefletidas ao agirmos "impensadamente"
Ele não nos julga, não nos critica, não se acha superior, ele sequer nos olha feio porque ele mal olha para nós kkk, não nos acua e inferioriza-nos.
E você se achando mais. Ele, na dele, por piores que sejam seus pesos, consegue ser superior a nós mesmo com a vida que leva
Devido às drogas? Ao estado em que chegou?

Whatever. 

Isto realmente não importa. Assim como nós, que passamos todos os dias por alguns dele, espalhados por cidades que pregam a modernização, não nos importamos com suas presenças tidas como desagradáveis.
Talvez devessemos refletir ao menos um pouco que exemplos como este são mais que o retrato de um país ainda cheio de falhas e carências.
Talvez devemos perceber que esta, a carência, está imersa em cada um de nós.
Carência de empatia e de consciência, de discernimento e compaixão. 
Mas veja leitor, como a vida é engraçada. Por ironia, tudo acaba voltando a nós mesmos, dado que agimos de modo que não gostariamos que agissem conosco porque no fim das contas tratamos a nós de forma repudiável, pois somos cada um de nós , quer queiramos ou não, ele.

#UmaHeliofóbica