sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Consciência

Que domínio tem sua consciência sobre ti?
E que domínio você exerce sobre ela?
...
Eu estava me lembrando, depois de parar e pensar sobre uma situação nefasta, o quão sempre fui alertada por minha mãe sobre ter uma consciência tranquila. Quer dizer, não lembro exatamente o que ela dizia ou diz a respeito, mas a ideia central é: "Utilizar a consciência como base para meus atos". Como se fosse um termômetro, algo assim.
E é engraçado lembrar disso, pois acabo de pensar no que era uma constante minha: "Se conselho fosse bom não se dava. Vendia"_típico pensamento capitalista? Pode-se dizer que sim? (risos).
A verdade é que por mais que eu sempre tenha demonstrado, em boa parte de minha vida, alheamento às orientações recebidas, elas se impregnaram em mim.
E confesso que, de fato, sinto-me feliz e agradecida por isso.


Como vai sua consciência, meu caro leitor?
Sim. Entenda isso como um diálogo amigável e nada além disso.
A minha está, creio eu, bem. Aliás, como disse a pouco, as orientações impregnaram de um jeito que me coagem em quaisquer atos que minha consciência julgue reprováveis. Desde ficar 5 minutos sem o aparelho móvel a coisas além.
Ta. Agora você me diz que sou boba, santa ou sonsa. Mas não se trata disso. 
Procuro pensar meus atos, e quando maus, eles me atormentam a consciência até obterem uma resposta a fim de reverter tal quadro.
Mas, então, apresentada à uma situação que pesaria extremamente se fosse comigo, parei para refletir e pensar: "Como está sua consciência?"
A vida só segue. 
Você acorda e, como de costume, escova os dentes, toma banho, come, e finalmente, inicia o dia.
Você dá bom dia à pessoa gentil do elevador, cumprimenta o porteiro, conversa rapidamente com a moça do restaurante (no momento do almoço), e segue a vida.
Você sorri com naturalidade e ri das mesmas piadas, você lê um livro, estuda para a prova, ouve música, pensa sobre o que vai comer no jantar, observa as pessoas e percebe que está tranquilo consigo mesmo.
Aliás, percebe não. Pois para perceber você deve dar importância a algo ou ao menos pensar a respeito ou se sentir afetado, e como já falei: Sua consciência está tranquila.
-Diga-me, por que está?
É tão confuso para mim lidar com o abstrato, e são abstratas situações as quais não consigo me visualizar.
Achei, por um breve instante, que estava sendo empática, mas nada mais era que falta de compreensão.
Diga-me leitor, como se sente ao pegar a última fatia de torta de doce de leite na geladeira mesmo sabendo que ela tinha um dono, que não era você?
E o que me diz daqueles 10 reais que você viu cair do bolso de uma jovem, mas ficou para si?
E quando um idoso extremamente vulnerável está de pé ao seu lado no coletivo e você, sentado, volta a cabeça para a paisagem exibida através da janela?
Ta..talvez você me diga que oferece o lugar, devolve o dinheiro e que está de dieta. Então, neste caso, como se sentiu quando falou duras palavras a alguém que, importante ou não para ti, gosta muito de você?
Ou quando deu em cima de alguém mesmo tendo namorado(a)?
Você não deu em cima? Neste caso, como se sentiu tendo, de fato, concretizado? Não o fez? Não o fez ou prefere pensar assim?
Como se sentiu ao sair do fim de uma fila quilométrica e ir para o início, porque conhecia alguém? ou quando deixou de enfrentá-la em um hospital, banco ou quaisquer desses lugares morosos?
Como se sentiu quando quase derrubou alguém com uma ombrada ou pisou no pé, mas não pediu desculpas? Como se sentiu quando falou mal de um amigo ou maldisse alguém?
Como está sua consciência?
Parece uma pergunta suficientemente adequada agora?
Parece bem colocada e faz algum sentido?
"Tenha consciência de seus atos"_acho que é assim que diz minha mãe. E acho que tenho tido em boa parte das vezes. Aliás, quem é perfeito?
Talvez o problema não seja o erro. Aliás, não o é de modo algum. O problema é quando banalizamos maus atos de modo tal que eles já não nos afeta. Sabe? quando uma criança se vê perplexa quando alguém ultrapassa o sinal. Mas quando cresce, essa se torna uma trivialidade.
O problema é a escassez ou inexistência de sensibilidade para perceber o erro ou sentir certo incômodo por ter feito algo que foge de seus valores
Ou talvez seja exatamente isso. Quer dizer, valores.
Pesar-me-ía (tentarei não usar mais mesóclises) a consciência jogar uma garrafa de água na rua. O que é um ato razoavelmente bobo (pois foi banalizado e normalizado). mas, depois de ter sido advertida por minha avó, quando eu tinha menos que 10, não tenho lembranças de repetir tal ato. (percebe-se aí a importância da educação e, em alguns casos, repressão na vida das crianças).
Eu não sou direta ao ponto muitas vezes. Ao invés disso, enrolo ou dou a entender retribuir interesse por aquele que se interessa por mim, não porque gosto de iludir, mas porque não sei como dizer que estou bem sozinha. Eu magoaria e isso pesaría a consciência, em muitos casos. Pois me coloco no lugar dela.

É difícil entender as pessoas quando elas são tão discrepantes de nós. Mas será que deveria respeitar mesmo diante de um ato indigno que sequer assopra negativamente sua consciência?
Talvez não caiba a mim fazer nada além que zelar pela minha
Talvez nossos costumes e educação tenham sido tão destoante quanto nossas consciências
E não posso fazer nada além de aceitar
Mas e você, leitor, como está a sua?

#UmaHeliofóbica